Vivíamos como pessoas normais, uma família tranquila, casados e com duas filhas maravilhosas (Alessandra e Michele), frutos do meu casamento com Marina. Certo dia, em setembro de 1984, recebemos um convite para participar de um encontro de casais com Cristo – ECC na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Méier. A partir dessa graça inicial, deste encontro com o Senhor, sentimos que nossos corações foram transformados e inquietados para continuarmos participando dos Círculos de Casais.
Com o passar do tempo e as orações da minha esposa, acabei permanecendo. Participava das equipes de serviços do Grupo de Oração “Cor Iesu” e posteriormente comecei a ir aos retiros promovidos pela RCC, mas ainda de forma muito acanhada. Porém, ao participar do Retiro de Dons e Carismas, Deus abriu o que meus olhos não enxergavam, tocou o que meu coração não sentia e tive a graça de receber o Dom de Línguas e durante as orações uma “serva” teve uma visão que o Senhor Jesus colocava em minhas mãos um cajado. Isso me tocou demais, voltei daquele retiro com uma nova proposta de vida, trabalhava com muito ardor no Grupo de Oração e nas Pastorais.
Em 1994, fui orado e confirmado para participar do núcleo do Grupo de Oração, porém alguns meses depois pedi para me afastar e me dedicar apenas na Acolhida e livraria.
O Espirito Santo continuou agindo profundamente na minha vida e durante o Retiro de Carnaval Rio de Água Viva em 1995, promovido pela RCC, o pregador Padre Jonas Abib falava: “o Senhor está necessitando fazer a recata urgente e Nossa Senhora é aquela que está realizando esta recata, ela está precisando de cada um de nós para essa obra, principalmente você que está afastado do núcleo do grupo de oração, volte logo, pois o Senhor está precisando muito de você!” Neste momento, eu chorava igual uma criança e tinha certeza que era pra mim que o Senhor estava mandando aquela mensagem. No intervalo tive a graça de encontrar com a coordenadora do Grupo de oração Cor Iesu, partilhei com ela o quanto aquele chamado de Deus mexera comigo e perguntei se podia voltar para o Núcleo. Ela alegremente me disse pra voltar. Então na segunda-feira, na reunião do núcleo, foi feita a oração para discernir a moção do grupo de quarta-feira e também pelo servo que iria substituir a coordenadora, temporariamente, pois a mesma precisava se afastar por um período para ser submetida a uma cirurgia na garganta. Todos os membros oraram e durante a oração uma serva proclamou que lhe foi permitida uma visualização. Nesta visão, o Senhor estava me revestindo com um manto de rei e colocando um cajado na mão (I Reis 3,5-12) e em 1995 assumi a coordenação do Grupo de oração Cor Iesu.
Durante anos lutamos com o vício do alcoolismo em nossa família. De uma forma que só Deus consegue, Ele já estava nos preparando para esta nobre obra de misericórdia. Ele nos confiou essa missão inicial, para que nos preparássemos espiritualmente para o futuro que a nós se apresentava.
Em um dia das mães preparamos uma festa merecida para minha esposa Marina, mas ela disse que o maior de todos os presentes seria ir a São Pedro da Aldeia buscar mais uma vez seu irmão dependente químico, pois ele estava morando na rua. Enquanto estávamos em viagem, Marina orava e perguntava reclamando: Quando isto tudo vai acabar meu Deus? Então o Senhor lhe deu a seguinte Palavra: “Não vos lembreis mais dos acontecimentos de outrora, não recordeis mais as coisas antigas, porque eis que vou fazer obra nova a qual já surge: não a vedes?” (Is 43,18-19)
Dois meses depois, ele ainda morando em nossa casa, participou de um cerco de jericó na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no dia do encerramento tomou posse das graças de Deus e nunca mais bebeu.
Após a volta do meu cunhado Elton para São Pedro da Aldeia, o Senhor enviou para o grupo de oração um jovem chamado André. Ele estava em busca de libertação do vicio das drogas. Após a realização do grupo, por volta das 22:00, nos dirigimos para uma sala no andar superior e juntamente com os servos Marina, Flávio e Laerte oramos juntos por ele até as 02:30 da manhã. Este jovem teve a graça de ser batizado no Espirito Santo e voltou para sua casa curado. Ele perseverou no grupo de oração, a cada semana ele trazia outras pessoas, inclusive seu irmão que também foi liberto do vicio do álcool.
Não conhecíamos casas de recuperação católica no Rio de Janeiro, apenas evangélicas e mais uma vez perguntamos a Deus o que fazer, já que não sabíamos e nem tínhamos experiência para cuidar de dependentes químicos. Em um dia de domingo, eu, minha esposa e um casal de amigos nos reunimos e após várias horas de oração o Senhor nos deu a direção e o discernimento necessário do que deveríamos fazer:
O Senhor nos falou em Sua Palavra, Mc 16, 12-18: “Mais tarde, ele apareceu sob outra forma a dois entre eles que iam para o campo. Eles foram anunciá-lo aos demais. Mas estes tampouco acreditaram. Por fim apareceu aos Onze, quando estavam sentados à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, por não acreditarem nos que o tinham visto ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados.
O Senhor censurou a nossa incredulidade, por não termos acreditado e nos fez lembrar: Quando você oraram por aquela senhora que estava em sua rua embriagada e que teve manifestação do inimigo, EU não a libertei? Não curei meu filho Elton? Por acaso não libertei da mesma maneira meu filho André quando vocês impuseram suas mãos sobre ele? Por que ainda duvidam? Eu vos envio e enviarei a todos os lugares e nada temerão, pois sempre estarei com vocês.
Muitos irmãos nos procuravam todos os dias e muitos deles também foram curados e libertos, porém muitos necessitavam de acolhimento e continuávamos encaminhando para a CREDEC em Campo Grande, posteriormente para a Comunidade Porta do Céu em Guará-SP e Comunidade Emaús em Lorena – SP. Foi quando nossos filhos participaram de um retiro em Lorena chamado Maranathá e ficaram maravilhados. Maravilhados porque talvez pela primeira vez tenham sido tocados em seu coração pelo amor de Deus. Me convidaram para participar do retiro que seria realizado em 1997, fui pra lá conhecer levando comigo mais 16 homens, no mês seguinte 30 homens e posteriormente 15 mulheres. Aproveitando o ensejo, convidei o Coordenador para realizarmos um retiro no Rio de Janeiro, pedimos autorização do nosso Pároco, Padre Dionísio e da Coordenadora da RCC do Vicariato Norte, Sra. Helena Rios, ambos autorizaram.
Após o 1º retiro, no dias 31/10 e 01 e 02/11/97 com mais de 200 inscritos, nos perguntamos: e agora, o que fazer? Sentíamos que era apenas o começo, Deus deixava claro que ali seria a nossa missão. Oramos e começamos dar passos, pedimos ao padre para fazermos vigília aos sábados (22 às 06:00), começamos um grupo de partilha Maranathá as segundas, éramos coordenadores do grupo Cor Iesu as quartas e davámos apoio ao grupo de oração Nossa Senhora Auxiliadoras às sextas, assim foi nossa caminhada no decorrer de 1997.
Em 1998, graças a permissão de Deus realizamos 2 retiros masculinos e 1 feminino, contávamos com o apoio do Grupo de Cruzeiro de SP que se encarregava de coordenar os retiros, além da valiosa participação dos grupos de oração Cor Iesu, Pentecostes e Nossa Senhora Auxiliadora, pois o Maranathá configurava apenas um grupo de partilha.
Iniciamos um grupo de preparação de servos sempre as sextas, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus e a cada retiro crescia o grupo de partilha Maranathá e em 1999 o grupo cresceu tanto que já não tínhamos condições de fazer as partilhas, com isso o grupo de partilha tornou-se um grupo de oração.
Em 06 de fevereiro de 2000, reunimos o núcleo do grupo de oração Cor Iesu para orarmos e pedimos a Deus novamente que Ele nos mostrasse o caminho. Que ele através da Sua palavra nos auxiliasse quanto ao destino que fosse da sua vontade para o grupo Maranathá, pois não podíamos ficar a frente de dois grupos. Após horas de intensas orações, o Espirito Santo se fez presente, nos permitiu uma visualização de uma criança sendo gerada e após o nascimento sendo colocada nos braços da mãe e assim sendo confirmada na Palavra em Lc 1,13-17, Lc 2,1-20 e Jo, 5-46.
Devido aos horários e falta de espaço na Paróquia, começamos a buscar uma casa para alugar próxima e em 21 de dezembro de 2001 inauguramos pela graça de Deus com a Santa Missa presidida pelo Padre Pedro. Para nossa surpresa ao final da celebração da missa, um irmão dependente químico que se chamava Josimar nos procurou pedindo ajuda, nos implorou, pediu por misericórdia, que nos o acolhêssemos, porque não podia voltar para sua casa no Complexo do Alemão, pois alguns traficantes queriam mata-lo, ficamos perplexos, preocupados com aquela situação, não saberíamos o que poderia acontecer. Como poderíamos realizar aquela acolhida, sem experiência, sem um profissional médico ou psicólogo? Quem poderia permanecer com ele na casa e quais seriam as regras de funcionamento? Mas em verdade, hoje vos digo: Nós somos muito “cabeça dura”, temos uma visão limitada em se comparando com o plano de Deus. Às vezes temos receios porque não enxergamos os milagres como o nosso Deus. Era ele mesmo, o próprio Deus, quem estava agindo, provisionando e o seu objetivo era um só: nos acelerar e sinalizar que nós precisávamos agir e a agir com a maior pressa do mundo.
Em um mês a casa já estava acolhendo 13 pessoas, a alegria contagiou a todos, tomou conta do coração dos servos que faziam parte do grupo de oração. Todos estavam envolvidos e comprometidos no sentido de manter o bom andamento da casa.
Em março de 2002, a casa se tornará pequena para acolher novos irmãos e alugamos uma nova casa na Rua Adolfo Bergamini, 199 – Engenho de Dentro em que estamos até hoje. Foi um marco importantíssimo, pois a partir daí novos grupos de perseverança começaram surgir: Campo Grande, Padre Miguel, Vila Kennedy, Maré, Penha, Parque Columbia, Caxias e Bangu, todos submetidos ao Engenho, como uma matriz.
Sentíamos que não deveríamos parar por aí, precisávamos continuar crescendo. Não apenas crescer desordenadamente, mas sim seguindo a Palavra de Deus, que nos remetia a expandir a sua ação e o seu amor misericordioso em todos os lugares. Atualmente temos como apostolado 15 casas de missão, 13 grupos de oração, 8 retiros no ano e as missões externas.
Em 06 de agosto de 2017, no ano da misericórdia, dia da transfiguração do senhor, foi gerado em meu coração após 15 anos de vivência comunitária o nosso carisma: “SER um coração misericordioso, o próprio Cristo, para todos que vivem nas trevas.”